[Visão do Autor: Starlight] – Minhas dicas para diálogos

Olá, pessoal. Starlight novamente, e dessa vez, irei falar do meu ponto de vista a respeito de diálogos.

Então, a pergunta que não quer calar é: como fazer bons diálogos?
O mais legal sobre diálogos é que quase todas as pessoas no mundo o treinam diariamente. Contudo, quando vamos repassar nosso conhecimento informal para o papel, a coisa muda muito. Será que podemos transferir o jeito exato de falar com um amigo na vida real para nossa história, com a desculpa de que determinado grupo social no qual estamos inseridos fala daquele jeito?

A resposta é sim e não (explicações a seguir).

Acredito que muitos autores, quando pensam em diálogos bons, pensam em diálogos realistas. Isso é um problema, pois, em geral, ao lermos qualquer texto literário, vamos perceber que ninguém fala do jeito que personagens fictícios dialogam. Na maioria das vezes, trata-se de uma fala sem interrupção, com pouco ou quase nenhum vício de linguagem.

Ainda assim... mesmo que diálogos costumem, por si só, não serem tão verossímeis, é possível criar uma voz bem definida.

A voz de cada personagem é o que definirá a qualidade do diálogo. Para isso, é preciso que essa voz seja construída pelo autor, com base na personalidade e nas características sociais do personagem.

Um personagem pode tender a falar com gírias, porque conviveu na rua por muito tempo e adotou esse linguajar. Talvez, outro personagem tenda a falar com jargões de ciência por ter um alto nível de conhecimento nesse ramo.

Mas esse são exemplos extremos. Como faço quando temos dois personagens normais dialogando? É simples. Faça a personalidade dele transparecer no diálogo. Mesmo alguém que não converse em gírias ou jargões vai falar de modo diferente de outra pessoa que também não tem esses vícios.
O segredo é criar um discurso com o qual seja possível aferir quem está falando, sem o uso de verbos dicendi (tags de diálogo).

Uma vez que você tem uma voz bem definida para cada personagem, dá para começar a pensar no que seus personagens irão dizer um para o outro. Você não quer que seu diálogo seja algo sem propósito, então a dica primordial é jamais criar um diálogo que não faça uma dessas duas coisas:
1. Avançar a história.
2. Desenvolver personagem.

Exemplo do que não fazer:

— Estou indo comprar algo no mercado. O que vai querer? — perguntou João à sua namorada.
— Torta de pêssego — respondeu Elisângela.
— Mais alguma coisa?
— Não só isso mesmo.

Se a torta de pêssego comprada não ter importância alguma para a história, nem para os personagens, esse diálogo é simplesmente inútil.


Como melhorá-lo? Coloque a voz dos seus personagens!

— Meu docinho de coco, estou indo comprar algo no mercado. Deseja alguma coisa, amor da minha vida? — perguntou João à sua namorada.
— Ai, eu quero uma torta de pêssego zero açúcar — disse Elisângela, fazendo biquinho. — Você sabe que eu não posso engordar, meu amor!

E, para melhorar ainda mais o diálogo, a torta de pêssego poderia estar envenenada, matando a Elisângela. João, sentindo remorso, sai em busca de vingança contra os vendedores do mercado. Agora, temos um diálogo que tanto avança a história, como carrega também as vozes características de cada personagem um com o outro.

Pra finalizar, algumas dicas gerais que eu posso dar:

1. Não tentar copiar o modo EXATO de como as pessoas falam na realidade. Transfira a realidade para o papel, usando um “filtro literário”.

2. Interrupções demais não ficam legais. Coisas do tipo “Ah”, “Hã...”, Humph!”, “M-Mas...”, “Bem...”, além de outros vícios como pessoas gaguejando, podem ser usadas numa boa, mas com moderação.

3. Criar um jeito de cada personagem falar é importante, mas também não se deve exagerar. Não é preciso criar personagens extremos só para diferenciá-los um do outro.

4. Seguir as duas dicas: diálogos devem sempre avançar a história ou desenvolver personagens. Se não faz nenhuma dessas coisas, ou se a intenção é só criar um alívio cômico: corte esse diálogo sem dó, nem piedade.


É isso. Espero que tenham gostado. Até mais!